A corrupção privada dos oligarcas brasileiros: escândalo da Americanas

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As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo o posicionamento da Entidade.

Artigo do associado da AFISVEC, João Carlos Loebens

Afirma o banco BTG (banco privado) ao Judiciário: “O caso em questão é o triste resumo de um país. Os três homens mais ricos do Brasil [Lemann, Sicupira e Telles] (patrimônio de R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial “do bem”, são pegos com a mão no caixa de uma das principais companhias do trio”. Se o caso fosse de uma empresa pública, o escandaloso rombo das Americanas suscitaria revolta social e pedidos de prisões.

Um comentário sobre dois termos do título: corrupção privada e oligarcas. Quando se fala em corrupção, normalmente o mapa mental das pessoas associa o termo corrupção somente a entes ou agentes públicos, como se a corrupção privada não existisse. A associação da palavra corrupção somente à coisa pública é uma definição efetuada pela mídia predominante, que forma o senso comum, como uma forma de blindar e obter a impunidade da corrupção privada praticada pelos super-ricos. Afinal, corrupção é somente aquela praticada pelos políticos. O objetivo não declarado é o de criminalizar a política, a única que pode colocar limites aos abusos de poder econômico.

Na mesma linha, a palavra oligarcas praticamente não é usada entre nós, a não ser para se referir aos oligarcas dos outros, os oligarcas de outros países (p.ex., os oligarcas russos). Dessa forma, a grande imprensa consegue ocultar os “nossos” oligarcas, como

se os oligarcas brasileiros não existissem. Infelizmente ostentamos 284 bilionários (oligarcas) brasileiros na revista Forbes, as mesmo tempo que ostentamos a triste realidade de 33 milhões de brasileiros passando forme.

A partir do escândalo da Americanas, pode-se jogar luz sobre o conceito e uso do termo corrupção privada, termo tão estranho aos meios midiáticos e políticos predominantes no país. Bom lembrar da ênfase e das grandes coberturas da Lava Jato, que procuravam criminalizar a administração pública e a política, evitando mencionar a corrupção privada existente nas mesmas situações (corruptores privados). Já no atual escândalo da Americanas, a cobertura midiática não chegou nem perto do estardalhaço do período lavajatista.

Curiosamente, situações como o escândalo da Americanas, a também escandalosa dívida privada dos empresários com o governo (Dívida Ativa – devedores do Estado – equivalente à Dívida Pública), bem como a própria sonegação (desvio privado de recursos públicos/impostos – vide “corrupção pública versus corrupção privada”), conjunturas conduzidas por agentes privados, não são tidos como “casos de corrupção”, sendo omitidos ou escondidos de manchetes de jornais e de longos minutos nos noticiários de horário nobre.

Ambev, Vivo e Pão de Açúcar estão entre os 10 maiores devedores dos Estados brasileiros, segundo a Fenafisco. No último leilão da telefonia 5G, Claro, Vivo e TIM arremataram a faixa de 3,5 GHz, considerada a principal do leilão, por R$ 1,1 bilhão. Essas 3 empresas de telefonia devem aos Estados brasileiros mais de R$ 9 bilhões. Essas empresas (privadas) pagaram o leilão 5G com

dinheiro (público) dos Estados? Por acaso, essas situações não poderiam ser consideradas escandalosas, dignas de serem noticiadas no horário nobre?

Outro exemplo: nos últimos dias a grande mídia se empenhou no praticamente linchamento moral midiático de uma aluna de medicina suspeita de ter desviado grana destinada à festa de formatura, resultando num pedido de prisão preventiva, enquanto nada parecido ocorre com o bilionário rombo na Americanas engendrado pelos super-ricos. Parece irônico, mas quanto maior o escândalo privado, menor a cobertura e maior a ocultação.

A cobertura midiática do escândalo das Americanas foi modesta, praticamente sem mencionar a corrupção privada, e casualmente o desfalque bilionário é de uma empresa comandada pelo grupo 3G Capital, que tem como atores principais os super-ricos oligarcas brasileiros Lemann, Sicupira e Telles, capitalistas “do bem” segundo o banco BTG, pegos com a “mão na botija”.

O rombo da Americanas não é um caso isolado. Especialmente em relação ao oligarca Jorge Paulo Lemann, há histórico de denúncias de práticas semelhantes, como fraudes, corrupção, concorrência desleal e superexploração de trabalhadores. Inclusive o escândalo da Americanas está chegando à AMBEV (controlada pelo mesmo grupo), com suspeita de outro rombo bilionário com impostos, segundo reportagem da revista Veja.  Infelizmente, as práticas nocivas aplicadas na Americanas tem sido um modus operandi de grandes capitalistas.

Cabe ainda uma rápida menção à empresa internacional que auditou a contabilidade da Americanas e não detectou irregularidade – a PwC, PricewaterhouseCoopers. A PwC é a mesma empresa que avaliou e recomendou a recente (também escandalosa) privatização da Eletrobrás, que acabou na mão do mesmo grupo 3G Capital, que deu o golpe na Americanas, que teve seus balanços aprovados pela PwC. Ou seja, está tudo na mesma casa (de golpistas).

Conforme lei das probabilidades, se não forem tomadas providências pelo Estado, em breve teremos o cenário de desfalque, roubo ou escândalo da Americanas se repetindo na Eletrobras. E quem pagará a conta serão os mesmos, os trabalhadores e o povo brasileiro, e quem embolsará a grana também serão os mesmos, os super-ricos oligarcas brasileiros.


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