As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo o posicionamento da Entidade.
Artigo do Auditor-Fiscal, associado da AFISVEC, João Carlos Loebens
No dia 24/02/2022 a Rússia invadiu a Ucrânia.
No dia 20/03/2003 os Estados Unidos e Reino Unido invadiram o Iraque.
O assunto do momento é a invasão/guerra da Ucrânia, como se fosse a única barbaridade desse gênero que já aconteceu. Da invasão do Iraque nem se fala mais … esquecemos?
É até certo ponto normal que a nossa memória não seja tão boa quanto achamos. Não lembramos de fatos idênticos do passado. Por que falamos da invasão militar de um país e não fazemos uma conexão com invasões militares similares de outros países? Até certo ponto, não exigimos muito da nossa memória, pois temos a imprensa. Muito mais fácil do que lembrar, buscar informação, pensar, conectar fatos e formar opinião. É mais cômodo receber pronto da telinha, sentado no sofá. É só consumir.
Recebemos a verdade pronta. Se você não se lembrar, não se preocupe, a imprensa sabe e se lembra de tudo, e vai te contar toda a história direitinho. Não é assim que funciona?
A invasão do território de um país sem o consentimento do Conselho de Segurança da ONU (EEUU, Rússia, França, RU e China) infringe uma norma básica do Direito Internacional previstos nos Acordos de Paz pós Segunda Guerra Mundial.
Em 1956 a Inglaterra e França violaram essa norma do direito internacional ao invadirem o Egito para ocupar o Canal de Suez. Em 1956 e 1958 a União Soviética violou essa norma ao invadir a Hungria e Tchecoslováquia. Em 1965 os Estados Unidos violaram a norma ao invadirem Santo Domingo.
E como não lembrar da guerra do Vietnã? Os Estados Unidos violaram essa norma durante a década de 1960, quando invadiram e bombardearam os territórios do Vietnã e Camboja. A China violou a norma em 1979 ao invadir novamente o Vietnã.
Nenhuma dessas invasões teve consentimento do Conselho de Segurança da ONU, mas em todas as invasões, as potências invasoras alegavam justa causa, por existência de ameaças a sua segurança nacional, para justificar ataques preventivos, apesar da contestação dos invadidos.
Ou seja, a invasão da Ucrânia não é uma novidade. Então, o que teríamos de diferente?
O término da segunda guerra mundial (1945) foi seguido pela Guerra Fria até o final dos anos 80, com uma disputa pela hegemonia entre EEUU e URSS. Com a queda do Muro de Berlim e a dissolução da URSS, esse “direito a invadir” outros países praticamente tornou-se um monopólio dos EEUU, a potência hegemônica pós-guerra fria. Nesses 30 anos de hegemonia, os estadunidenses, quase sempre apoiados pelo Reino Unido/Inglaterra, sem o consentimento do Conselho de Segurança da ONU, invadiram a Somália, o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e o Iêmen. Nessas invasões todas, exceto na do Iraque com alguma manifestação, praticamente não houve reação. Agora, na invasão da Ucrânia, verifica-se uma forte reação da elite europeia (os super-ricos) e OTAN à invasão.
Pois é, parece que a Rússia está quebrando a regra pós-guerra fria (1990) do monopólio estadunidense/OTAN de invadir “preventivamente” outros países. Depois de um ano de guerra, com aparente “segurança” russa na disputa, a Rússia estaria adquirindo seu “direito de invadir” outros territórios, como os Estados Unidos e OTAN tem feito de forma monopolística nesses últimos 30 anos.
Então, agora a guerra tem dois lados, ou não?