Nos últimos dias, desabrigados participaram de picnics, brincaram com super heróis fantasiados e comeram algodão doce
— Brasília
Centenas de voluntários estão indo aos abrigos na Região Metropolitana de Porto Alegre para entreter as crianças desabrigadas. Eles se revezam na programação de atividades, como oficinas de dança, música e cinema, e na distribuição de lanches, como cupcakes e algodão doce. O objetivo é criar um ambiente lúdico que alivie a tensão dos menores, que foram obrigados a deixar as suas casas em razão das enchentes que assolam o estado.
— Queremos trazer um pouco mais de normalidade e rotina a essas crianças. Tirar elas do mundo dos adultos e aproximá-las o máximo possível da rotina das escolas e creches — afirma a pedagoga Sandra Wiebbelling, que coordena essas ações no abrigo montado na Associação dos Auditores-fiscais da Receita Estadual (Afisvec), em Porto Alegre. O local está servindo como casa temporária para cerca de 100 pessas — entre elas aproximadamente 40 crianças de 2 a 13 anos.
Nos últimos dias, os menores desabrigados participaram de picnics, brincaram com super heróis fantasiados e comeram algodão doce. Neste domingo, dia das mães, eles pintaram vasos com corações para entregar às suas progenitoras junto com um chocolate. Todo o material é fruto de doação de voluntários.
Os pedagogos e psicólogos, que acompanham as crianças desabrigadas, já percebem alguns possíveis sinais de trauma desenvolvidos durante as inundações.
— Teve um dia de chuva forte na semana passada que fez barulho no telhado. Aí tivemos dois casos de crianças que se abalaram muito. Nós as acalmamos, dizendo que não iria entrar água ali, que não teria enchente naquele lugar — explicou Sandra.
Uma equipe de estudantes da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) também tem atuado para distrair as mais de 2.000 crianças que estão em um dos maiores abrigos da Região Metropolitana de Porto Alegre. Situado em Canoas (RS), uma das cidades mais afetadas pelos temporais, o campus da faculdade virou abrigo temporário para mais de 8.000 pessoas – o que é superior ao tamanho da população inteira de mais de 324 cidades do Rio Grande do Sul.
— Colocamos os nossos alunos para fazer essas atividades de recreação. É importante ter esses momentos de convívio, e acolhimento, para aliviar as situações traumáticas enfrentadas pelas crianças — disse Vinicius Tonollier, coordenador do curso de Psicologia da Ulbra.
A Ulbra reservou uma sala com doces e brinquedos para receber os menores que chegam dos resgates desde o dia 3 de maio, quando os rios da Região Metropolitana alagaram cima de bairros inteiros. Sete delas acabaram sendo entregues ao abrigo desacompanhadas, mas os familiares as encontraram horas depois.
Jornal O Globo