Os sucessivos empréstimos autorizados pelo poder legislativo desmoralizaram o outrora garboso cavalo gaúcho. O rabo foi sendo tosquiado e vendido e ficamos sem condições de espantar as moscas; até as futuras crinas já foram comprometidas. Depois fomos vendendo o osso dos cascos o que nos deixou mancos e sem condições de nos defender daqueles que nos montam e zombam das nossas fraquezas.
Os dois empréstimos mais festejados e tidos como a redenção do RS foram o contraído com o governo central em 1998 (recebemos R$10 bi e até dez/2016 pagamos R$26 bi e ainda devíamos R$57 bi) e o com o banco mundial em 2008 e 2010 (recebemos R$1,8 bi e até dez/2016 pagamos cerca de R$0,8 bi e ainda devíamos R$5,1 bi). Em ambos assinamos contratos que permitiram a interferência direta dos credores nas políticas públicas do RS, ou seja entregamos as rédeas.
Agora, o poder executivo está negociando com a União a postergação do atual e a contratação de novos empréstimos, portanto estamos prestes a vender os olhos recebendo em troca a designação de três técnicos que irão cabrestear o RS. Se a derrocada do nosso estado estivesse contribuindo para um Brasil melhor até que poderíamos pensar em relevar, mas não é o que está acontecendo, pois a atual centralização administrativa, política, tributária, financeira e econômica está provocando a decomposição social da nação brasileira.
É chegada a hora de tomar o freio nos dentes e disparar, assumindo as consequências daí advindas. É preciso nos confrontar com as nossas próprias omissões, que vêm contribuindo há mais de duas décadas para a degradação da nossa sociedade. Os poderes executivo e legislativo não podem continuar com estas desestruturantes decisões.
João Pedro Casarotto é auditor fiscal do RS, aposentado e ex-presidente da Afisvec.
Artigo originalmente publicado no jornal NH de Porto Alegre.