Debate de imposto sobre lucro ganha força

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No Brasil, existe mais tributação de bens e serviços do que de renda

 

Diante da crise fiscal, um grupo de especialistas discute mudanças no imposto sobre o lucro das empresas. O objetivo é aproveitar os tempos difíceis para melhorar a eficiência do sistema tributário, torná-lo menos injusto e elevar a arrecadação. O tema também ganha relevo na medida em que consegue romper resistências que se mostram mais fortes nas discussões que envolvem outros tributos sobre a renda, como heranças ou fortunas. No Brasil, o lucro é tributado apenas quando é gerado. As empresas pagam uma alíquota total de 34% sobre ele, e o restante, se for distribuído na forma de dividendos, é isento de imposto. Em outros países, a tributação é dividida: as empresas recolhem parte do imposto e a outra parte quem recolhe é o indivíduo que recebe o lucro na forma de dividendos.

Na OCDE, órgão que reúne 35 países, só a Estônia não tributa o lucro embolsado por indivíduos. A alíquota média do imposto sobre o lucro é de 24% nas empresas e 24% no dividendo, mas a tendência é elevar a tributação de indivíduos e reduzir a das empresas. É por esse caminho que seguem as discussões por aqui. No País, a parte do lucro distribuído sobre a forma de dividendos é de cerca de R$ 300 bilhões por ano, segundo a Receita Federal. O foco apenas na alta da arrecadação é repelido. Especialistas falam que a criação de uma alíquota média de 12% sobre esse bolo despejaria R$ 36 bilhões nos cofres públicos, acima dos cerca de R$ 23 bilhões esperados para o próximo ano com a alta do PIS/Cofins sobre os combustíveis. A reforma do imposto sobre lucros ajudaria a aprimorar um sistema tributário extremamente desigual. No Brasil, impostos sobre bens e serviços respondem por quase metade da arrecadação. Impostos sobre a renda, 18,27%. Na média da OCDE, consumo e renda têm 30% da arrecadação cada um. Sergio Gobetti, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), destaca que o topo da pirâmide social – a fatia dos 0,05% mais ricos, ou o grupo que possui uma renda anual média de R$ 5 milhões – concentra 8,2% da renda nacional. Dois terços dessa renda viriam de lucros e dividendos, o que significa dizer que são isentos de tributação. Gobetti sugere um modelo similar ao de países nórdicos. As alíquotas seriam de 20% na geração e de 20% na distribuição do lucro.

Esta última, contudo, incidiria apenas sobre o valor recebido que superasse o ganho projetado no mercado financeiro. Seria uma forma de equiparar a tributação de investimentos tidos como de risco. Com a taxação imediata dos dividendos, diz Gobetti, haveria um ganho fiscal. Mas a redução gradual da alíquota incidente sobre o lucro da empresa, de 34% para 20%, traria um resultado neutro ao fim do processo. Lucilene Prado, advogada especializada em tributação, diz que é preciso cuidado ao tributar dividendos, que, em geral, são usados para novos investimentos na economia. Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), diz que a tributação hoje do lado da empresa é alta. O problema é que muitas empresas usam artifícios para reduzir a base de incidência do imposto de 34%. Seria preciso fechar essa brecha para, em seguida, reduzir a alíquota paga pelas empresas, deixando-as mais próximas da média da OCDE.

– Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/07/economia/576667-debate-de-imposto-sobre-lucro-ganha-forca.html)

JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC


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