Augusto Bernardo Cecílio
A semana passada terminou com o governo Temer e o deputado Rodrigo Maia espalhando na mídia que estavam recuando, pois não tinham os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência. Os sindicatos acreditaram e desmarcaram a greve geral que estava marcada para o dia 5 de dezembro. Ah, inocentes! Quanta ingenuidade!
Jamais acreditaria num governo que joga sujo com a população, num verdadeiro vale tudo para aprovar tal reforma e que expõe publicamente os trabalhadores, em especial os servidores públicos. Pior do que acusar o próprio trabalhador pelo rombo da Previdência é fazer com que ele também pague para ser convencido disso. Para isso, o Congresso autoriza repasse de R$ 99 milhões para publicidade da reforma.
Com o dinheiro do povo, o governo paga milhões para espalhar propagandas nos meios de comunicação, alegando que quer acabar com privilégios dos que trabalham pouco, ganham muito e se aposentam cedo. Ora! Experimente o senhor Temer trabalhar durante 35 anos aqui no sol do Amazonas, para ver se aguenta. Logo ele, que se aposentou com 55 anos. Experimente deixar que Marcela Temer trabalhe lecionando no bairro do Mauazinho, para ver se ela consegue manter seus belos cabelos após 30 anos de magistério.
Reforçamos a pergunta feita nas redes sociais, quem são os privilegiados? O Bradesco teve um lucro de 16 bilhões em 2016 e possui dívida com a Previdência de 465 milhões; o Banco do Brasil teve lucro de 3 bilhões em 2016 e deve 208 milhões para a Previdência; a Caixa lucrou 4 bi e deve 550 milhões, e o Itaú lucrou 6 bi e deve 88 milhões. As dívidas das grandes empresas com o INSS é de 426 bilhões, enquanto que o déficit alegado pelo governo é de 149 bilhões. A JBS, por exemplo, possui patrimônio de 8 bilhões e deve 1,8 bilhões pra Previdência.
Os verdadeiros privilegiados estão aí, e outros estão rindo da Justiça e do povão, com muitos processos nas costas, ocupando cargos no alto escalão, sem nenhuma punição. Agora querem penalizar os mais fracos?
Eles estão apostando que o eleitor brasileiro tem memória curta e tentam fazer com que os parlamentares subservientes aprovem tal medida, que vai fazer com que nossos filhos e netos tenham vergonha da gente, por não termos lutado para salvar direitos adquiridos às duras penas. Cuidado, deputado! Se votar, não volta, não se reelege.
É triste ver sindicatos de braços cruzados, fazendo cara de paisagem, esperando que outros lutem, quando deveriam pelo menos mandar confeccionar faixas de protestos, reunir com parlamentares do seu estado, arregimentar forças, marcar território e mostrar a cara dizendo que é contra tal reforma. Sindicato e associação que não representa seus membros não deveriam nem existir. O pior é ver pessoas esclarecidas dizendo que essa reforma não passa, mas nada fazem.
Enquanto uns só se preocupam em postar nos grupos assuntos ligados às próximas eleições, o Congresso se apressa em acabar conosco. Contra isso o Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado) faz circular pelo Brasil um vídeo esclarecedor com o texto a seguir.
“Dizem por aí que os problemas da Previdência são os supostos privilégios dos servidores públicos. Mas quer saber o que é privilégio mesmo? Privilégio é o político ter foro privilegiado. Privilégio é o sonegador ter direito a financiamento. Privilégio é ser corrupto e não ser preso”. Estão atacando o problema errado. Os privilégios são outros. Previdência, sem enfrentar as causas reais, não haverá o amanhã.
*Auditor fiscal da Receita Estadual do Amazonas e professor.
Fonte: Febrafite