Gestores públicos têm receios de que Estado não tenha estrutura para atender demanda
Prestes a completar um mês da confirmação do primeiro caso de coronavírus (registrado em 10 de março) e 20 dias desde o início das primeiras medidas de restrição à circulação e ao convívio social, o RS começa a semana “da Páscoa” na expectativa sobre os próximos passos do governo do Estado, que já observa a pressão se intensificar. Estimativas diferentes a respeito de quando ocorrerá o pico da doença se multiplicam nas redes sociais, na mesma velocidade em que prefeitos apontam que testes e equipamentos necessários para enfrentar a pandemia não estão chegando a suas cidades. Ao mesmo tempo, parte de entidades empresariais ou vinculadas a diferentes setores segue pressionando pela retomada de atividades, agora com o argumento de que é melhor o Estado enfrentar um aumento expressivo no número de casos neste mês do que no inverno, ou de que a população “não vai aguentar” permanecer em quarentena quando abril terminar.
O governo do Estado, neste momento, projeta o pico da doença para o final de abril. O Ministério da Saúde já sinalizou que ele pode ocorrer depois, entre maio e junho. E, na edição de sexta-feira do Boletim Epidemiológico, destacou que as unidades da federação que implementaram medidas de distanciamento social ampliado “devem manter essas medidas até que o suprimento de equipamentos (leitos, EPI, respiradores e testes laboratoriais) e equipes de saúde (médicos, enfermeiros, demais profissionais de saúde e outros) estejam disponíveis em quantitativo suficiente, de forma a promover, com segurança, a transição para a estratégia de distanciamento social seletivo.
Na prática, não há, entre os gestores públicos, quem tenha uma resposta sobre quando ocorrerá o fornecimento adequado de suprimentos e equipes. Nas cidades, além da cobrança por equipamentos que não chegam, os prefeitos se queixam de falta de informações. Vários decidiram “não pagar para ver” e vão utilizar recursos municipais para adquirir testes e equipamentos ou montar hospitais de campanha.
“Na ponta está chegando muito pouco ou nada, os processos ainda estão muito lentos, e não temos informações precisas sobre o cronograma de destinação de insumos e equipamentos. Por exemplo, os prefeitos como um todo se preocupam muito com o fato de que, se a subnotificação já é grande agora, como será no pico”, resume o presidente da Famurs e prefeito de Palmeira das Missões, Dudu Freire. A cidade, segundo ele, vai tentar driblar a quase inexistência de testes para a população adquirindo por conta uma primeira leva de mil kits de testes RT-PCR. Eles serão analisados na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em Cachoeirinha, o prefeito Miki Breier, que até a última sexta-feira presidia a Associação dos Municípios da Região Metropolitana (Granpal), informa que a proximidade da Capital, Porto Alegre, e a experiência sobre a distância entre anúncios públicos e a prática pesaram na decisão de erguer na cidade um hospital de campanha com 60 leitos (40 de enfermaria e 20 de isolamento) e 18 respiradores. “Aqui, depois que o vice-prefeito testou positivo, uma parte do pessoal entendeu. Pelas cidades do RS, a percepção dos prefeitos, vou te contar: estamos muito assustados e queremos que o tempo que estamos ganhando faça a diferença.”
De acordo com o vice-presidente da Famurs e prefeito de Taquari, Maneco Hassen, a avaliação da entidade é de que o RS tem uma vantagem: está no tempo certo nas medidas de isolamento social. Mas há uma ressalva: “Estamos atrasados nas questões de compra de equipamentos, proteção e insumos. Deveríamos ter começado antes.”
Todos os municípios terão decreto
O RS vai chegar na Páscoa, no próximo final de semana, com a expedição de decretos de calamidade pública por parte da totalidade de seus 497 municípios em função do coronavírus. Do universo de prefeituras, são poucas as que ainda não recorreram ao expediente, que, entre outros pontos, incluem ações como compras com dispensa de licitação e contratação emergencial de pessoal.
Na última sexta-feira, 268 decretos municipais de calamidade foram protocolados na Assembleia. Na semana anterior, haviam sido 157, totalizando 425. Em termos percentuais, isso significa que 85% das cidades do Estado já emitiram decretos. As 15% restantes elaboram documentos que deverão ser protocolados até a quarta-feira, 8.
Estado anuncia medidas de enfrentamento
Alvo de questionamentos constantes por parte de prefeitos e profissionais da saúde, os kits para testes de detecção do coronavírus seguem escassos no RS. Na sexta-feira, o governo do Estado anunciou a chegada de 48.941 testes rápidos sorológicos para auxílio ao diagnóstico da Covid-19 vindos do Ministério da Saúde: 20 mil deles seguiram à Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para pesquisa. Os 28.941 restantes, segundo as informações do governo, serão aplicados em profissionais da saúde e da segurança.
Os prefeitos afirmam não terem até o momento informações sobre se parte dos kits chegará às cidades, para testagem de equipes municipais. A Secretaria Estadual da Saúde deve publicar nesta segunda-feira a nota técnica com os esclarecimentos sobre o uso dos testes. O governo do Estado também anunciou que está comprando diretamente 50 mil testes do tipo RT-PCR. O pregão, contudo, ocorreu na semana passada e a previsão é de eles cheguem em 20 dias.
Na sexta-feira passada o governo anunciou a entrega de 10 leitos de UTI no Hospital São Vicente de Paulo, em Osório. A ação se somou a outras duas, de outros 20 leitos, para os hospitais Universitário de Canoas e de Clínicas de Passo Fundo. Conforme as informações disponibilizadas pelo governo estadual, os 30 leitos são destinação do Ministério da Saúde e integram uma solicitação de um total de 279 leitos deste formato feita pelo Executivo gaúcho.
Também na sexta, dia 3, o governo anunciou o recebimento de 25 mil comprimidos de cloroquina para tratamento de pacientes graves hospitalizados.
Na quinta, 2, conforme as informações da administração estadual, o Hospital Universitário de Santa Maria recebeu 10 leitos de UTI, disponibilizados pelo governo do Estado. Os leitos integram a ação de aditivo em contrato de locação para colocar na rede mais 78 leitos em 12 hospitais.
No dia 31 de março o governo do Estado anunciou a entrega de 710 mil máscaras protetoras, 633 mil luvas de látex e 40,6 mil aventais de manga longa.
Fonte: Correio do Povo