Série de entrevistas Zero Hora: candidato ao governo do Estado pelo PL, Onyx Lorenzoni

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Série de entrevistas ZH: De 29 de agosto a 8 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos a governador do RS. O foco é discutir problemas do Estado e aprofundar as propostas de governo. Cada um dos oito postulantes de partidos com ao menos cinco representantes no Congresso terá entrevistas mais longas. Os outros concorrentes dividirão uma reportagem em 8/9. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que será apresentado na urna.

“Vamos criar a Secretaria Estadual da Primeira Infância”, afirma o candidato Onyx Lorenzoni

Postulante do PL ao governo do RS diz ainda que, se eleito, pretende implantar no mínimo cem escolas cívico-militares por ano no Estado

Publicado em 01/09/2022 – CARLOS ROLLSING

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Com atuação em cinco ministérios ao longo do governo Bolsonaro, Onyx tenta neste ano chegar ao comando do PiratiniAnselmo Cunha / Agencia RBS

Político de confiança do presidente Jair BolsonaroOnyx Lorenzoni (PL) busca se eleger governador com o impulso dos movimentos de direita. Além da longa carreira parlamentar, com dois mandatos de deputado estadual e cinco de federal, tentará se cacifar com as realizações nos cinco ministérios que ocupou ao longo do governo Bolsonaro. 

Para chegar ao Palácio Piratini, terá de encontrar meios para superar a popularidade do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), candidato à reeleição, e também manter-se atento em relação ao eventual crescimento das candidaturas de esquerda, sobretudo de Edegar Pretto (PT), apoiado por Lula. Confira abaixo os principais momentos da entrevista.

O RS obteve a homologação do regime de recuperação fiscal (RRF) com a União. Isso possibilita o pagamento escalonado da dívida do Estado com a União, de R$ 75 bilhões, entre 2022 e 2030. De outra parte, o Estado terá de observar teto de gastos, o que gerou críticas de engessamento. O senhor manterá o RRF ou pedirá revisão?  
Esse programa é voluntário, entra quem quer. Será que era o momento de o RS colocar uma corda grossa no seu pescoço, subir em uma cadeira e pular? Eu acho que não. Esse programa tem uma junta de acompanhamento formada por dois técnicos indicados por Brasília e um do RS. Em toda a decisão, entramos perdendo de dois a um, é por maioria simples. O conjunto de restrições que se estabelece retira a autonomia do Estado. É por essa razão que o Rio de Janeiro, que entrou (no RRF) quando a lei era muito mais branda, mas com muitas e severas restrições, teve de entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter a sua revisão atendida. E o mais grave: o STF suspendeu e determinou ao Tesouro Nacional e à Receita Federal que apresentem uma nova proposta ao RJ. Não estou falando de algo desconhecido ou que não existam experiências no Brasil. Tem. E quem teve a experiência se lascou. Por todas as razões, é um péssimo negócio para o RS.

O senhor, caso eleito, pretende revisar o RRF?
Eu já conversei com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro Paulo Guedes (Economia). Resolvida a eleição, e se for da vontade de Deus e do povo gaúcho que eu seja o governador, vou sentar com o presidente da República, com o ministro da Economia e vou apresentar uma proposta de um novo caminho para o RS.

O senhor é contundente na crítica ao RRF. Entende que, politicamente, tem plena legitimidade para contestar? O senhor era ministro do presidente Jair Bolsonaro e, em parte, foi a União quem impôs ao RS as condições. Como avalia?  
Desde quando um programa voluntário é imposto por alguém? As regras foram feitas em uma legislação levada ao Parlamento. Quando eu estava lá, fui o único deputado gaúcho, e um dos raros brasileiros, que apresentou um destaque para evitar que houvesse uma regra que eu considero inconstitucional, de que o Estado tem de abrir mão de discutir a dívida. Desde quando um governante tem o direito de praticar o crime que o ex-governador praticou de transferir para as futuras gerações do RS uma dívida que, pela irresponsabilidade dele, vai custar R$ 168 bilhões? Quem vai pagar? É ele? Ele não vai pagar.

O governo homologou a concessão de trechos de seis estradas estaduais na Serra e no Vale do Caí. A concessionária terá de investir R$ 3,4 bilhões em obras. Houve crítica à licitação porque teve um concorrente que apresentou deságio mínimo nas tarifas. Vai levar adiante esse pacote, que ainda prevê oferta de outros dois blocos de rodovias?
Durante um ano, tive a responsabilidade de coordenar o PPI, o programa de parcerias e investimentos. Foi levado para a Casa Civil. Obtivemos naquele ano a maior arrecadação em privatizações e concessões da história do Brasil: R$ 450 bilhões (ZH tentou confirmar o valor com o Ministério da Economia desde 26/8, mas não houve resposta). Quem coordenou isso? Eu tive essa responsabilidade. Sou favorável às privatizações e concessões. Agora, o foco é melhorar a vida das pessoas. E não agravar. No bloco (de concessão de rodovias) que incluía a RS-118, projetaram uma praça de pedágio junto a duas populações muito carentes, de Alvorada e Viamão. O que queriam fazer? Destruir a vida das pessoas? Espantar as empresas? Acabar com empregos? O nosso governo vai fazer privatizações e concessões, mas elas têm de atender as pessoas.

A atual gestão do banco (Banrisul) é incompetente. Como é que a gente mede a competência de uma gestão? Com os seus resultados. O Banrisul iniciou o mandato do governador que renunciou valendo R$ 10,2 bilhões. Sabe quanto ele vale hoje? R$ 4,4 bilhões.

O Banrisul é relevante no crédito para a economia e tem operação sadia, mas há avaliações sobre dificuldade de competir em longo prazo, com o crescimento de fintechs, e eventual perda futura de valor. O que pensa sobre a privatização?
A atual gestão do banco é incompetente. Como é que a gente mede a competência de uma gestão? Com os seus resultados. O Banrisul iniciou o mandato do governador que renunciou valendo R$ 10,2 bilhões. Sabe quanto vale hoje? R$ 4,4 bilhões. Sumiram R$ 6 bilhões ao longo de três anos e meio. O Banrisul perdeu espaço porque foi um banco mal administrado, com uma pessoa sem capacidade para ser o presidente do banco. E foi usado politicamente. Nós vamos privatizar e conceder muitas coisas aqui no RS. Mas enquanto não recuperar o valor do Banrisul, (é importante) ter um banco público que pode se transformar em um grande instrumento para o microcrédito, para o pequeno agricultor, para o pequeno e o médio empreendedor. E se a gente juntar Banrisul, Badesul e BRDE, será que a gente não encontra um sistema para financiar a nossa arrancada para a recuperação econômica? Eu acho que sim. Mas, para isso, temos de buscar os melhores técnicos do Brasil. Tem de levar o banco para o mundo digital com competência. Encontrar caminhos que existem para que ele, daqui a três ou quatro anos, possa valer R$ 15 bilhões ou R$ 20 bilhões. Aí vamos falar em competência. Por enquanto, só temos a triste politicagem misturada com incompetência no comando de um banco que tem um patrimônio de 90 anos. O dia em que o banco valer R$ 20 bilhões ou R$ 30 bilhões, pode ser interessante a sua privatização.

Em maio, dado do Inep apontou evasão de 10,7% no Ensino Médio no RS, quarto índice mais elevado do Brasil. O que fazer na educação?
Esse é um dos maiores dramas que temos hoje no RS, a qualidade da nossa educação. Não tenho dúvida de que precisamos ser ousados. E, para isso, já anunciei que o primeiro passo a ser dado é focar na primeira infância. O que aprendi no Ministério da Cidadania é que a criança de zero a 36 meses é o momento em que ela precisa de especial estimulação. E especial cuidado. É quando desenvolve sua capacidade cerebral, intelectual e de aprendizagem. As principais valências para que uma criança possa ter bom desempenho escolar são desenvolvidas ali. Eu ajudei a criar e expandir o Criança Feliz. Hoje, o governo do presidente Bolsonaro cuida de 1 milhão de bebês de zero a 36 meses. E isso tem de ser casado com os cuidados de 36 meses até cinco anos e 11 meses. E aí tem de ter escola infantil de qualidade e apoiada. Principalmente para as famílias de baixa renda. Se esse ciclo não for respeitado, a criança vulnerável, de famílias com dificuldade, chega na 1ª série do Ensino Fundamental com 40 vezes menos capacidade do que a criança de classe média. Esse é um abismo insuperável pelo resto da sua vida. Vamos criar a Secretaria Estadual da Primeira Infância. Será uma secretaria ligada ao gabinete do governador, de ação transversal às diversas secretarias, para a gente fazer um trabalho em profundidade. Com isso, a gente prepara o futuro. Como a gente tenta melhorar o presente? Lá no Ensino Médio temos de trabalhar com a capacitação para o emprego. Criamos no Ministério do Trabalho e Previdência, na minha passagem, uma grande parceria com o Sistema S através do serviço civil voluntário. Foi um programa criado para dar, através das prefeituras, a oportunidade para os 8 milhões de jovens “nem-nem” do Brasil, parte da população de 18 a 24 anos que nem trabalha nem estuda, para que eles, tendo oportunidade de trabalho, ainda pudessem ser capacitados ao longo da experiência de um ano em uma prefeitura. Chegamos a listar quase 200 cursos diferentes de formação no Sistema S. Por outro lado, pretendo implantar no mínimo cem escolas cívico-militares por ano aqui no RS. Nas cidades em que essas escolas já estão implantadas, e são 30 que estão funcionando, os resultados são espetaculares.

Esse é um dos maiores dramas que temos hoje no RS, a qualidade da nossa educação. Não tenho dúvida de que precisamos ser ousados. E, para isso, já anunciei que o primeiro passo a ser dado é focar na primeira infância.

Crimes como homicídios, latrocínios e roubos tiveram quedas nos últimos anos, mas os índices de feminicídio seguem elevados e crescentes. O que fazer?
Na questão que envolve o feminicídio, é a fórmula que a Damares (Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) construiu. Abrir canais de denúncias. E é daí que acabamos descobrindo esses crimes. Ou podemos agir preventivamente para evitá-los. Uma ação muito firme para coibir. A segurança pública é um todo. E ela teve melhoras no Brasil inteiro desde que o presidente Bolsonaro assumiu. O que vamos fazer é aumentar a presença no RS dos programas federais de segurança. Por uma questão ideológica, o atual governo pegou um pouco de dinheiro federal mas agiu parcimoniosamente no que diz respeito à implantação de programas federais aqui. Temos de melhorar a condição dos presídios e construir presídios. O governador tem de construir relação de confiança com a Brigada Militar, com a Polícia Civil, com a Polícia Penal e a Polícia Científica. As forças de segurança têm de saber que o governador é um aliado. Sempre que houver enfrentamento com o crime, o governador estará ao lado das forças de segurança.  

O MDB decidiu indicar o candidato a vice-governador na chapa de Eduardo Leite. O senhor espera contar com o apoio aberto da ala bolsonarista do MDB gaúcho? Conversou a respeito?
Eu sou parceiro do MDB ao longo de muitas eleições. Simon, Sartori, Tiago Simon, Osmar Terra, Perondi, Cezar Schirmer, Mendes Ribeiro Filho, amigo até o último minuto. Esse MDB, que é o MDB que conquistou muitas coisas importantes para o Brasil e o RS, não é o MDB que enxergo hoje. O MDB que conheço e respeito, e sei que esse MDB me respeita, é o MDB que tem princípios e valores sólidos. O MDB que eu acredito é o do (Sebastião) Melo. Tive a honra de colocar o vice do Melo, o Ricardo Gomes. Hoje, eles fazem administração extraordinária em Porto Alegre. Minha amizade e aliança com o MDB vêm desde 1994. Eu era presidente do PL, foi o primeiro partido a dar apoio para que o MDB ganhasse aquela eleição com o Antônio Britto.

O MDB que eu conheço e respeito, e sei que esse MDB me respeita, é o MDB que tem princípios e valores sólidos. O MDB que eu acredito é o do (Sebastião) Melo. Tive a honra de colocar o vice do Melo, o Ricardo Gomes. Hoje eles fazem uma administração extraordinária em Porto Alegre.

Acredita que algum deles poderá vir a público manifestar apoio?
Eu acho que amigos, quando veem um bom propósito em outro amigo, em algum momento eles vêm para perto e ajudam.  

Como o senhor pretende governar, caso eleito, em um cenário com Lula na Presidência? Existe a chance de ele ser eleito. E o senhor tem relação conflituosa com o PT. Conseguirá conversar com o governo federal ou terá de governar daqui do RS?
Como é que pode se eleger um sujeito que não consegue sair na rua? O Brasil sofreu muito na mão do PT e de Lula. Duvido que essa hipótese aconteça. Essa hipótese só está na cabeça de uma parte da mídia engajada e dos próprios petistas esquerdistas e de mais ninguém. Isso é um delírio. Não haverá isso. O Brasil não merece essa tragédia.

O senhor sempre pautou o combate à corrupção, mas, após a delação da JBS, acabou confessando o recebimento de caixa 2 (R$ 300 mil) e assinou acordo de não persecução penal para encerrar o processo. Como irá tratar o assunto?
Eu estou em paz com a minha consciência porque esse problema foi resolvido. Primeiro com Deus. Depois, com a Justiça. Entre ter uma mancha e varrer para baixo do tapete e passar a vida inteira com uma mancha, eu escolhi expor a verdade e ter uma cicatriz. Essa cicatriz me lembra todo dia de que integridade é algo fundamental, que combate à corrupção é fundamental. A gente tem de lembrar que ali tem uma questão contábil. Não tem nada a ver com desvio de dinheiro público. Nada a ver com participar de atos de corrupção, ativa ou passiva. Quem tem de explicar corrupção ativa ou passiva é o PT. Tenho muita tranquilidade de enfrentar isso e estou preparado. Pode vir. Eu não tenho medo. Quem tem a verdade dentro de si não teme a nada nem a ninguém.

Material retirado do jornal Zero Hora


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