Série de entrevistas Zero Hora: candidato ao governo do Estado pelo PP, Luis Carlos Heinze

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Série de entrevistas ZH: De 29 de agosto a 8 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos a governador do RS. O foco é discutir problemas do Estado e aprofundar as propostas de governo. Cada um dos oito postulantes de partidos com ao menos cinco representantes no Congresso terá entrevistas mais longas. Os outros concorrentes dividirão uma reportagem em 8/9. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que será apresentado na urna.

“Vamos ser autossuficientes e exportadores de energia”, afirma o candidato Luis Carlos Heinze

Postulante do PP ao governo do Estado é contra o uso de câmeras corporais pelos brigadianos e, como opção, defende que o monitoramento por vídeo nas ruas seja ampliado

Publicada em 31/08/2022 – CARLOS ROLLSING

Camila Hermes / Agencia RBS
Heinze tenta repetir arrancada impressionante que garantiu sua eleição ao Senado em 2018Camila Hermes / Agencia RBS

Depois de empreender arrancada impressionante na eleição ao Senado em 2018, Luis Carlos Heinze (PP) tenta agora reproduzir o feito na disputa pelo Palácio Piratini. O experiente político ligado ao agronegócio, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), anima-se ao falar sobre seus planos para o desenvolvimento econômico, com foco em infraestrutura e geração de energia, e demonstra relutância ao abordar a hipotética privatização do Banrisul.

Ex-prefeito de São Borja e deputado federal por cinco mandatos, Heinze se defendeu das críticas por ter espalhado desinformação na CPI da Covid e alegou ter trabalhado pela vinda de vacinas para o Rio Grande do Sul.

O RS obteve a homologação do regime de recuperação fiscal (RRF) com a União. Isso possibilita o pagamento escalonado da dívida direta do Estado com a União, de R$ 74 bilhões, entre 2022 e 2030. De outra parte, a adesão leva o Estado a ter de observar teto de gastos, o que gerou críticas de engessamento. Manterá o RRF ou pedirá revisão?
Hoje, é impagável. A conta entre 2023 e 2026 chega em até R$ 14 bilhões. A receita do Estado cresce, normalmente, de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões por ano. De 2020 para 2021, cresceu R$ 12 bilhões. Claro que isso favoreceu o governo de plantão, o Eduardo Leite. A receita era de R$ 39 bilhões em 2020, foi para R$ 51 bilhões em 2021. Já em 2022, vai ser de R$ 48 bilhões. E, para 2023, talvez seja menor ainda a arrecadação, por causa da estiagem. São diferenças que temos de analisar. 

Eduardo pagou zero da dívida (não quitou prestações porque havia liminar suspendendo o pagamento). Além da receita crescente que o Estado teve: inflaçãocombustíveis, energia, telefonia e alimentos subiram. E subiu a arrecadação. E ele (Leite) recebeu R$ 2,3 bilhões do governo Bolsonaro para usar onde quisesse. E recebeu ainda para a saúde em torno de R$ 1 bilhão a mais. Com esse dinheiro, ele botou em dia a conta com os hospitais. Isso eu não vou receber. Não vai ter outra pandemia que proporcione ao governo federal colocar mais dinheiro. “Ah, o Eduardo acertou as contas.” Só que essa conta tem de ser paga. Como eu vou pagar? A primeira coisa é juntar São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e a prefeitura de São Paulo. São os cinco maiores devedores. E temos de fazer uma conversa juntos para irmos ao presidente. Essa conta é impagável.

Precisa de um acordo novo?
Sim. Eu não vou dizer que não devemos mais nada. Devemos, sim. Quero fazer um enfrentamento diferente. O Rio de Janeiro fez um acordo (de RRF) e não está pagando. Entrou no STF. E aí? Vamos esperar o ano que vem para entrar no STF de novo? É hora de sentar e conversar francamente.

O Banrisul é relevante no crédito para a economia e tem operação sadia, mas há apontamento de dificuldade de competir em longo prazo, com o crescimento de fintechs, e perda futura de valor. O que pensa sobre a privatização?
A ação do Banrisul, no tempo do Sartori (José Ivo, ex-governador), valia quase R$ 30. Hoje, vale R$ 10. Se eu fizer uma conta rápida, vai dar R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões (eventual venda do Banrisul). E o Estado pega só R$ 2,5 bilhões. O resto é dos acionistas. Outros bancos cresceram o lucro com a pandemia, e o nosso diminuiu pela metade. Alguma coisa está errada. O diretor-presidente do Banrisul no tempo do Sartori ganhava R$ 51 mil. O atual ganha R$ 108 mil. Não está dando prejuízo, mas ganha menos do que ganhava. Vou vender amanhã? Não sei se é a forma de fazer isso. Alguém vai me orientar, da área financeira. Os números do banco hoje são ruins. O lucro piorou, a margem piorou e dobrou o salário do presidente.

Hoje não valeria a pena vender o Banrisul?
Por esse preço de ação… Esperavam um valor da CEEE (da privatização da CEEE-G), R$ 1 bilhão e não sei o quê, mas deu R$ 900 milhões (o arremate ficou em R$ 928 milhões). Não deu aquilo que esperavam. Como colocar agora na rua para vender se eu não tenho segurança do que vamos vender? Não posso fazer isso. Não sou irresponsável. Vou fazer um bom negócio para o RS. Pegar R$ 4 bilhões? R$ 5 bilhões? De que adianta? Paga um ano da dívida (com a União) e mais nada. É um ativo que temos. Não vou botar fora. Com esse preço de R$ 10 a ação, não vendo. Analisando friamente, em conta de padeiro, assim não dá para fazer.

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Em maio, dado do Inep apontou evasão de 10,7% no Ensino Médio no RS, quarto índice mais elevado do Brasil. Como virar a página na educação?
Se pegarmos os dados de 2018, tínhamos 845 mil alunos. Hoje, temos 730 mil. Essa queda já vem desde 2018. Temos de fazer com que essas crianças voltem para a escola. São 115 mil jovens que saíram da escola. E onde eles estão? Têm de voltar para a escola. O primeiro passo é esse. O segundo passo é a situação das escolas. Dezenas, centenas de escolas, é o caso do Instituto Flores da Cunha (em Porto Alegre), não posso admitir cinco, seis, sete anos para reformar uma escola. Alguma coisa está errada. Vou juntar uma força-tarefa entre as secretarias de Educação e de Obras e mandar fazer, arrumar as escolas. Como é que vamos ter educação de qualidade e falar em informática se eu não tenho luz, água e PPCI de bombeiro nas escolas? Chove dentro de escolas.  

A educação, com todos os seus problemas, é um dos maiores orçamentos do Estado. Como vai ser possível fazer as transformações?
No tempo do Sartori, tinha 18 aparelhos de ar-condicionado nas escolas de Alegrete. Eduardo Leite está no fim do governo e não consegue ligar o ar-condicionado, tchê. O que está havendo? Não é falta de dinheiro. Tem de acertar a rede deles, que não comporta. Está faltando um patrão, um cara que mande que faça. Às vezes, não é falta de dinheiro. Quem vai me ajudar nesse assunto? Já comecei a conversar com as universidades comunitárias: me deem solução. No tempo do nosso Jair Soares (do PP, governador entre 1983 e 1987), tínhamos a melhor educação do Brasil. Hoje, é o 15º Estado.

Vou ter uma conversa com os professores, sentar com eles e ver o que posso fazer. Quero alguém que não leve ideologia para dentro da escola. E soluções. Para isso, se precisar, eu vendo o que tiver de vender. Tem de colocar mais “x” na educação? Eu vou botar. Quando eu fui prefeito de São Borja, melhorou o nível da educação porque ajudei os professores. Tiraram o segundo grau e se formaram na faculdade. Se não fizermos isso na educação, não tem esperança.    

Sou contra (uso da câmera de vídeo no uniforme). O que eu vou fazer vai ser um 
sistema de câmera de vídeo, vou interligar. E vou incentivar em todos os municípios 
as câmeras de vídeo de monitoramento nas ruas. Vamos conectar a Brigada Militar,
 os Bombeiros, a Polícia Civil, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, 
a Polícia Rodoviária Estadual

Em São Paulo, o uso da câmera de vídeo no uniforme reduziu as mortes cometidas por policiais militares. No RS, a Brigada Militar encaminha licitação para adquirir equipamentos. Qual sua posição?
Sou contra. O que vou fazer vai ser um sistema de câmera de vídeo, vou interligar. E vou incentivar em todos os municípios as câmeras de vídeo de monitoramento nas ruas. Vamos conectar a Brigada Militar, os bombeiros, a Polícia Civil, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Rodoviária Estadual. Se tu passas em uma estrada estadual, se tu és bandido, não interessa. Mas, se tu não pagaste o imposto, te pegam. Eu quero saber do imposto? Claro. Mas quero saber muito mais se passa um ladrão de carro. Essa conexão eu quero fazer. E conectar com as câmeras de segurança que têm hoje nas empresas privadas e nas residências. Um sistema diferente, com um software que comanda todo esse processo.

Por que o senhor é contrário à câmera corporal? Há indicativos de que ajuda a reduzir a letalidade e resguarda os policiais de eventuais acusações injustas.
Vou ajudar o policial militar e o policial civil. Quero treinar e dar proteção a eles. Eu era prefeito e via quando o pessoal pegava lá um bandido roubando gado. Chegou o ladrão com um advogado. A vítima era o ladrão. Alguma coisa está errada. Um senhor humilde, roubaram. E o ladrão foi solto na hora. E, daqui a pouco, o brigadiano que deu uns tiros no cara foi responder processo. Eu vou proteger a polícia.  

Crimes como homicídios, latrocínios e roubos tiveram quedas nos últimos anos, mas os índices de feminicídio seguem elevados e crescentes. O que fazer?
Quem conhece esse assunto é a Comandante Nádia (Gerhard, do PP, candidata ao Senado). Nádia está conosco. Temos conversado, é importante, e vamos dar toda a força. O que eu quero fazer também com relação a Brigada é botar mais gente na rua. Nós temos 1,2 mil brigadianos que estão hoje dentro dos presídios. Quero botar ali a Polícia Penal e fazer esse pessoal (brigadianos) trabalhar na rua (no policiamento). Temos hoje brigadianos que são da reserva. Posso aproveitar esse pessoal para funções burocráticas e liberar o cara que pode fazer função na rua. Tem o pagamento de horas extras ao brigadiano. Quero botar mais brigadianos na rua com pagamento de hora extra, em convênio até com as prefeituras. Estamos desenhando e vamos fazer isso. E aí vai mudar também o feminicídio.

A miséria está em alta. O que pretende fazer para gerar renda e reduzir a pobreza?
Quando fui prefeito, fazia um trabalho com os supermercados e padarias. Vai na Ceasa ver o que tem hoje disponível. Vou usar o que os restaurantes têm e os supermercados. Sobra uma banana, meia banana, um abacaxi, um pedaço, tudo pode ser usado. Vamos achar solidariedade. Essa liderança eu vou ter. Todo mundo vai nos ajudar. Eu fiz em São Borja. Todo mundo me ajudava. E, com isso, tiramos muita gente da miséria. Tem 1 milhão de pessoas que passam necessidade no RS e quero trabalhar com elas.      

Projeta alguma novidade para o futuro da economia ou o RS deve focar nas bases tradicionais do agronegócio, metalmecânico, indústria alimentícia, comércio e serviços?
Tecnopuc é um exemplo. O Tecnosinos. Um dia eu sonho que as universidades federais também entrem nesse processo. E já me aproximei das universidades comunitárias e quero incluir a Uergs nesse processo. É um potencial muito grande de startups e cérebros de professores e estudantes. Esse pessoal vai inventar coisas. Quando vejo lá na UCS, em Caxias do Sul, tem grafeno dentro da universidade. Essas cabeças estão no RS e vão trabalhar pelo desenvolvimento. Energia eólica, solar, biomassa. Tudo está no nosso radar. Nós vamos ser autossuficientes e exportadores de energia. Isso vai acontecer no nosso governo. 

E o mais importante é o porto em Arroio do Sal. Isso vai ser realidade. Tem projeto, tem licença da Secretaria Nacional dos Portos e da Marinha. Falta a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) e o Ibama. Fecha isso e a iniciativa privada começa a obra. Nós temos só um porto (de grande porte). Só Rio Grande, deslocado. Muita gente da Serra leva hoje (suas mercadorias) para Santa Catarina, para exportar por lá. Pessoal do cigarro leva para Santa Catarina. Vamos ter um porto aqui no RS. Isso estou fazendo como senador. E vou fazer muito mais como governador.  

Vou ter uma conversa com os professores, sentar com eles e ver o que posso fazer.
Quero alguém que não leve ideologia para dentro da escola. E soluções.
Para isso, se precisar, eu vendo o que tiver de vender. 
Tem de colocar mais "x" na educação? Eu vou botar

O senhor recebeu críticas pela atuação na CPI da Covid por ter espalhado desinformação. Mudaria algo?
Eu trago cientistas que dizem o que eu falo. Eu falo pela ciência. Satoshi Omura, pai da ivermectina, é Prêmio Nobel (de Medicina, em 2015). Luc Montagnier, Prêmio Nobel de Medicina. Doutor Zelenko. O mais importante é o seguinte: vieram vacinas para o RS. Eu trabalhei por esse assunto. Cada cidadão fez três doses já. E já tem gente com a quarta dose. Eu ajudei e pouco se fala nesse assunto. Eu tenho trabalho. Não é só a CPI.

O senhor citou na CPI da Covid o médico Didier Raoult, que foi contestado e até investigado por supostamente ter chegado a conclusões frágeis em estudo com técnicas falhas.
Negativo. Eu liguei para ele, falei com o advogado dele e com ele, uma moça traduziu. O processo dele foi questão de um dinheiro com o instituto dele. O dinheiro não tem nada a ver com covid. Fique tranquilo. Tem muita história nesse assunto, mas fiz minha parte e ajudei o Estado.

O senhor fez emendas de relator, as chamadas emendas secretas, no valor de cerca de R$ 36 milhões. Entende que esse mecanismo é adequado? Não prejudica a transparência e fiscalização?
É o que tinha lá. Não fui eu que construí isso aí. Tinha o recurso, consegui como senador e trouxe. Semeei todo o Estado onde botei esse recurso. Tudo é transparente. Um prefeito do PT veio me agradecer. Mandei dinheiro para ele. Não olho partido. Eu ajudo todo mundo.

Material retirado do jornal Zero Hora


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